domingo, 26 de dezembro de 2010

"O carvão estará connosco"... ou com eles ...

Crédito da imagem: Bryan Christie
Numa altura em que as alterações climáticas já dão mostras visíveis do que nos espera, com as calotes polares e os glaciares a derreter mais depressa do que qualquer previsão pessimista, com as secas, incêndios e inundações e a fome e doença que implicam;

Numa altura em que o petróleo atingiu o pico de produção e está já a entrar em decadência, e que face a uma procura a aumentar exponencialmente, não terá outro destino que se tornar cada vez mais e mais caro, que por sua vez tornará todos os bens essenciais mais caros;
Numa altura em que muitas pessoas já perceberam que se está a consumir recursos 45% acima do que a terra pode regenerar;
Numa altura em que era urgente tomar medidas universais que limitassem as emissões de dióxido de carbono;

Eis que, há uma falta de visão, de altruísmo, de responsabilidade e de vontade dos políticos mundiais para tentar alterar o rumo; sabemos que não é fácil, mas por alguma razão seria suposto lhes chamarem "líderes"...

Eis que, sabendo, mas não dizendo, que o petróleo é "sol de pouca dura", os países mais poderosos do mundo se agarram com unhas e dentes ao CARVÃO. Sim, ao carvão, aquele combustível de origem fóssil que é o mais poluente; aquele que mais liberta CO2 para a atmosfera. Sim, aquele que ainda é pior que o petróleo.

A China está num frenesim económico, e constrói centrais térmicas a carvão a velocidades espantosas. Os Estados Unidos, já as têm e continuam a querer mais.

Um jornalista americano, James Fallows estudou, andou pela China e debruçou-se no assunto. E publicou um artigo na revista The ATLANTIC, de Dezembro 2010, que está disponível online - Dirty Coal, Clean Future - onde dá conta da evolução do "carvão" na China por comparação com os Estados Unidos.

O artigo tenta criar a ideia de que é possível haver carvão limpo: através da melhoria da eficiência na combustão, ou através da captura de dióxido de carbono após a queima. Um caso e outro poderá "minorar" as emissões; Nenhum dos casos é uma alternativa limpa. Mas, mesmo assim, como não há imposição aos limites de emissões, nem isso fazem.

Leiam o artigo original em The ATLANTIC, ou então a tradução  (possível) que fiz da maior parte do mesmo (aqui). 

Independentemente do que se ache das soluções para tornar o sujo carvão mais" limpo", vale a pena ler o artigo, quer pelas declarações de muitos peritos que deram o seu contributo, quer para que se saiba em que "pé" estamos! Aqui abaixo fica a tradução de dois extractos do artigo de James Fallows:

"Toda a actividade humana em conjunto emite cerca de 37 gigatoneladas de dióxido de carbono por ano para a atmosfera. Esse número continua a aumentar, à medida que cresce a população mundial e à medida que aumenta o número de carros, de fábricas e de centrais eléctricas.
(...)
Antes de James Watt inventar a máquina a vapor no final do século XVIII, isto é, antes de as sociedades humanas terem incentivo para queimar carvão e mais tarde petróleo, em grandes quantidades, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera era de cerca de 280 partes por milhão, ou ppm (...). Pensa-se que essa concentração oscilou entre cerca de 180 e 280 ppm nos 800 mil anos anteriores. Em 1900, com a Europa e América do Norte em industrialização, esse valor chegou a cerca de 300 ppm.
Agora, a concentração de dióxido de carbono é igual ou superior a 390 ppm, o que é provavelmente o maior nível em muitos milhões de anos. "Nós sabemos que a última vez que o CO2 esteve neste nível, a maior parte dos mantos de gelo da Gronelândia e da Antárctida Ocidental não existiam", disse Michael Mann, um cientista do clima na Penn State. Por causa das 37 gigatoneladas anuais de emissões de dióxido de carbono, o nível de dióxido de carbono atmosférico continua a subir cerca de dois ppm por ano. O panorama é este: na época em que os alunos que estão hoje no sexto ano terminarem o ensino secundário, o nível mundial de dióxido de carbono provavelmente terá ultrapassado 400 ppm, e na altura em que a maioria deles estiver a iniciar família, terá passado os 420."
 (...)
"O carvão estará connosco, porque é abundante: qualquer estágio projectado de "pico do carvão" viria muitas décadas depois de o mundo atingir o "pico do petróleo."
O carvão estará connosco, por causa dos locais onde existe: os quatro países  no top das reservas de carvão são os Estados Unidos, Rússia, China e Índia, que, juntos, têm cerca de 40% da população mundial e mais de 60% do carvão.
O carvão estará connosco, porque seus custos directos são, na maioria dos casos, muito inferiores aos das alternativas - e é por isso que é tanto usado.
O carvão estará connosco, porque os seus custos indirectos, em mortes de mineiros, destruição ambiental, e da carga de carbono na atmosfera não são regulamentados e "externalizados". As empresas de energia que respondem perante accionistas ou contribuintes, têm dificuldade em justificar uma escolha mais cara. "O carvão é tão barato, porque a sua “sujidade” ainda não é contabilizada", disse um especialista em poluição do ar do Natural Resources Defense Council ao The Wall Street Journal, há 10 anos. Na ausência de legislação sobre o clima nos Estados Unidos e de acordos internacionais para reduzir as emissões, a sujidade ainda não conta. 
O carvão estará connosco, pois mudar uma infra-estrutura de energia - como a construção de um novo sistema de transporte ou uma rede de cabo ou de conexões de fibra óptica através de todo um país é exactamente o oposto de um processo de "virtual", e leva muitos anos para ser concluído."

12 comentários:

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    .......... (_/..... só estou
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    .......... (_/..... por aqui
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    ...........(_/..... te desejar
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    ..\_)..... )../.... BOAS FESTAS!!!
    .......... (_/.....

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  2. Bom dia, Manuela.
    Li o seu texto com atenção, uma atenção que, progressivamente, provoca uma dor no coração, pela aparente (só aparente) inércia doentia, calculista, programada, dos chamados "liders".
    Já em Junho de 1988, seria a Manuela uma jovenzinha, eu escrevi o poema "Em Direcção ao Futuro", num momento em que já sentia a mágoa que sinto hoje. Cheguei à conclusão, há muito tempo, de que os que lutam 'na rectaguarda', são, talvez, os mais resistentes, pois não desistem NUNCA. Eu estou desse lado, há muitos anos.
    Aquele meu poema, o penúltimo que postei no meu blog "Caminhos de Cristal", é disto a prova. Estou com 72 anos e não desisto. Força, Manuela! Admiro-a muito pela sua tenacidade.

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  3. O dinheiro continua e vai continuar a movimentar o mundo; o lucro está acima de qualquer coisa e os países ricos, infelizmente são os que menos se preocupam com os estragos na mãe natureza. Esperemos que as nossas crianças, os homens de amanhã, a quem desde cedo se começa a ensinar boas práticas ambientais, cresçam e mantenham a preocupação que hoje mostram com o ambiente. Conheço muitas crianças que motivam e ensinam os pais a não deitarem lixo para o chão e exigem que os resíduos sejam separados em casa para depois serem reciclados. A minha esperança está nelas. Um beijinho e até breve. Voltarei.
    Emília

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  4. Todos os "Facebookers" apoiam a utilização dos carvão...
    Nem preciso de ir mais longe... fico por aqui!

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  5. Ainda um destes dias li uma reportagem sobre os supostos prós da energia nuclear e de como os avanços na àrea estão quase a chegar ao ponto de reaproveitar os próprios resíduos e o lixo ser mínimo. O artigo era claramente a favor, mas dá que pensar.

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  6. Para a Mãe da Rita se ir entretendo... pode ir lendo aqui tem é que ler de baixo para cima!
    Mas nunca se esqueça que isto pode acontecer a qualquer altura!

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  7. Distraí-me com o "nuclear" e até me esqueci de referir o que já tantas vezes escrevi no meu, e por esse blogues, net fora... que até já só faço copiar/colar... aí vai mais uma vez!
    "SÓ VAMOS DEIXAR DE UTILIZAR O PETRÓLEO, O CARVÃO E O GÁS NATURAL, OU QUANDO ACABAREM OU QUANDO FOREM ECONOMICAMENTE INVIÁVEIS... DISTO PODEM TER A CERTEZA..."
    Enquanto alguém pensar que assim não é... anda a viver noutro Planeta de certeza!
    Basta verem mais um exemplo: A justiça brasileira acaba de aprovar a exploração de petróleo a menos de 50km da costa, mas não de uma costa qualquer, a costa faz parte do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, na Bahia. Embrulha!!!

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  8. Bebedores do Gondufo
    Obrigada pelos votos, e um bom ano :)

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  9. Maria Letra

    Obrigada pelas palavras de força. Não desistir nunca, mesmo quando a batalha tem poucas hipóteses de ser ganha.
    E adorei o seu poema no Caminhos de Cristal (http://marialetra.blogspot.com/), aliás, os seus poema que por lá tive o prazer de ler.

    Obrigada, e volte sempre :)

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  10. Emília

    A minha esperança também está nas crianças, porque quanto aos adultos - está difícil. Mas não podemos desistir deles, pois as crianças são essencialmente "formadas" em casa.

    Beijinhos, bom ano novo e obrigada pela visita.

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  11. Mãe da Rita

    O Bill Gates tem apostado numa nova forma de energia nuclear, mais limpa porque consome o urânio empobrecido (http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.com/2010/03/bill-gates-e-energia-nuclear-limpa.html). No entanto, para além de precisar de mais de uma década de estudo, a energia nuclear continua a ser uma opção perigosa.

    Eu continuo a dizer que a Transição (viver mais simples, consumir menos energia, consumir menos) é o caminho de eleição, o único caminho que tem futuro, mas ainda são poucas as vozes que se ouvem.

    O mundo ainda não está preparado para mudar de vida, só lentamente... lentamente demais...

    Beijo e obrigada pela visita

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  12. Voz

    Bem sei (julgo) como as coisas são. Por isso trouxe este texto aqui, para que quem aqui vem também tenha a noção do que se passa. Não tenho grandes ilusões para as próximas décadas: vai continuar a ser usado petróleo, carvão... até acabar? não sei se as alterações climáticas vão deixar... não sei mais quanto tempo a Terra suportará o consumo excessivo de recursos que essa energia "barata" permite...

    Mas sei que uma boa fatia da electricidade que gasto em casa, inclusive aquela que este computador gasta, vem do carvão. Faço o que posso para minimizar, mas julgo ser mais útil alertar neste blogue que deixar de usar o computador... o mesmo se passa com o Facebook: não vou lá para brincar.

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