segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ervin Laszlo - Os limites pessoais da humanidade

Ervin Laszlo (Ervin László) é provavelmente o maior responsável pela existência deste blogue. Ele e um professor iraniano que lecionava na Universidade do Minho em 1993/94, no âmbito do Mestrado em Tecnologia do Ambiente, e de quem, infelizmente, não consigo lembrar o nome.  Foi este último que indicou o livro "THE INNER LIMITS OF MANKIND", de Ervin Laszlo.

Esta leitura fez-me despertar, fez-me sentir profundamente que algo de muito errado estava a acontecer no mundo, e que era urgente mudar o meu rumo e fazer parte dessa mudança. Hoje, ao fazer umas arrumações, descobri, finalmente, as fotocópias do livro então fornecidas. 

Partilho então a tradução que fiz (dentro das minhas limitações) de um extrato do capítulo 2, "Personal Limits, The Unrecognized Obsolescence of Modernism", desse livro.

«LIMITES PESSOAIS - A  Ignorada Obsolescência do Modernismo"


Antes de partimos para reformar o mundo, faríamos bem fazer uma pausa para ver se não temos de nos reformar a nós próprios. Os limites interiores que correntemente constrangem o crescimento e desenvolvimento da humanidade incluem os limites associados com a maneira como cada um de nós pensa e se comporta, tanto na esfera privada como no contexto público. Os nossos valores, crenças e ações somam-se às grandes tendências económicas, culturais e políticas  que determinam os caminhos que a humanidade escolhe para o futuro.

O 'ETHOS' MODERNO


Assim, vou começar com uma nota muito pessoal. Começo fazendo algumas perguntas que fiz a mim próprio, e que parecem ingénuas ou de senso comum, mas que são de importância fundamental e merecem respostas honestas. Deixem-me perguntar, então, a cada um e a todos os leitores, se sim ou não, acredita sinceramente:

  • - Que neste mundo é cada um por si próprio, com os mais fortes e engenhosos a ganhar  privilégios legítimos.
  • - Que uma 'mão invisível' harmoniza os interesses individuais e sociais, de modo que quando alguém faz bem a si próprio também beneficia a sociedade.
  • - Que a melhor maneira de ajudar os pobres e os necessitados é que os ricos fiquem mais ricos pois a riqueza inevitavelmente gotejar para beneficiar os oprimidos e elevá-los a um estatuto decente (não disse Kennedy "uma maré alta levanta todos os barcos"?).
  • - Que a ciência pode resolver todos os problemas e revelar tudo o que pode ser conhecido sobre o homem e o mundo.
  • - Que a ciência descobre 'factos' e só eles é que contam; valores, preferências e aspirações são meramente subjetivos e inconsequentes.
  • - Que a maneira de revelar os factos é a especialização, e aprender o máximo sobre o mínimo de temas possível, deixando que outros especialistas se preocupem com tudo o resto.
  • - Que se alguma coisa pode ser projetada e produzida para o lucro, também deve ser comercializada, pois é destinada a melhorar situação ou a tornar mais felizes pelo menos algumas pessoas.
  • - Que a verdadeira eficiência é a máxima produtividade para cada máquina, para cada empresa, e para cada ser humano.
  • - Que podemos saber tudo o que precisamos sobre as pessoas calculando os custos e benefícios da sua atividade e recursos, salvo algumas excepções  a personalidades ou a antecedentes étnicos.
  • - Que todos devem lealdade em primeiro lugar ao seu país, e que todos os países (exceto algumas colónias remanescentes) são incondicionalmente soberanos e estados-nação independentes.
  • - Que a riqueza e poder do seu próprio país deve ser assegurada independentemente do que isso significa para outros povos, pois neste mundo não é só cada homem por si próprio, mas também cada país por si próprio.~
  • - Que o poder da riqueza e o poder político decidem o que é para ser, e as ideias servem principalmente para encher livros e tornas as conversa mais impressivas.
  • - Que as nossas responsabilidades acabam quando asseguramos o nosso bem-estar - o que felizmente assegura também o bem-estar do nosso país - e deixar as próximas gerações cuidarem de si mesmas, como a nossa teve de fazer.
  • - Que existem riquezas quase inesgotáveis na Terra, só temos de usar as nossas tecnolgias para as extrair e colocá-las no mercado.
  • - Que só existe um sistema económico e político que é imensamente superior a todos os outros, e por isso devia ser adotado por todos os povos do mundo no seu interesse.
  • - Que a felicidade humana consiste em ter os últimos, mais confortáveis e poderosos produtos, e arredores sumptuosos.
  • - Que ter muitos filhos demonstra a virilidade e capacidade de um homem suportar uma família grande.
  • - Que a natureza e o ambiente podem muito bem tomar conta deles próprios, apesar dos estridentes gritos de alarme dos "verdes" e alguns intelectuais.
  • - Que os reais sinais de progresso são cidades maiores com edifícios mais altos, mais e maiores fábricas, quintas maiores e mais mecanizadas, mais e maiores autoestradas, e uma maior seleção de produtos em centros comerciais maiores e mais luxuosos.

Se o leitor acredita nisto tudo, ou na maior parte, é verdadeiramente uma pessoa moderna, o ideal e talvez objeto de inveja da maior parte das pessoas do mundo. E tornou-se uma séria ameaça ao futuro da humanidade.»

Ervin László, "The inner limits of mankind: heretical reflections on today's values, culture and politics", 1989

"Não podemos resolver os nossos problemas com o mesmo tipo de pensamento que lhes deu origem"

Ervin Laszlo nasceu em Budapeste, Hungria, em 1932. Filósofo da ciência, teórico de sistemas, pensador integral e pianista clássico húngaro, publicou cerca de 75 livros e 400 artigos e gravou vários concertos para piano  Em 1993  fundou o Clube de Budapeste, uma associação internacional informal dedicada ao desenvolvimento de uma nova forma de pensar e de uma nova ética para i ajudar a resolver os desafios sociais, políticos, económicos e ecológicos do século 21. Em 2004 e em 2005, foi nomeado para o Prémio Nobel da Paz (fontes: http://www.clubofbudapest.org/Wikipedia).

Abaixo, uma entrevista a Ervin Laszlo (2010), e a ligação para outra (2009) e uma outra (2012), que nos mostram que Laszlo, já com mais de 90 anos, ainda tem esperança que sejamos capazes de derrubar os nossos limites e construir um mundo melhor.



6 comentários:

  1. Mais um livro para procurar na biblioteca e na feira do livro! ;-)

    É engraçado como há pessoas que, directa ou indirectamente, são tão importantes na nossa vida, especialmente professores, e como, infelizmente, nos esquecemo do nome deles...
    Mas a marca da sua presença fica no nosso coração e na nossa alma para sempre, mesmo que não consigamos nomeá-los! :-)

    Agradeço a esse teu professor, que te indicou o livro que te inspirou e te pôs no caminho da defesa da sustentabilidade.
    O mundo tem uma dívida de gratidão para com ele, especialmente eu, pois o teu exemplo motiva-me a procurar fazer sempre mais! :-)

    Beijinhos e obrigada pela partilha! :-D

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  2. Olá amiga Sónia :)

    É verdade, há pessoas que são marcos na trajetória da vida, e as conversas que tivemos nas aulas com esse professor foram marcantes. Tenho mesmo pena de não lembrar do nome, procurei nos sites da UM, e não vi, pois se visse acho que reconheceria. Julgo que esteve poucos anos lá.

    Quanto ao livro, julgo que será difícil de encontrar esse, pois nem o título em português consegui encontrar.

    Haverá talvez outros
    mais recentes, mas não sei se só no Brasil. Em edições de Portugal, só encontrei
    este

    Mesmo as fotocópias que encontrei são apenas de parte do livro.

    Beijinhos e muito obrigada pelas palavras, eu também te agradeço pelo exemplo e motivação que me dás! Força nas Mães de Transição!

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    1. Vou procurar esses outros também. Já descobri algumas pérolas na biblioteca municipal cá do burgo! :-)

      Beijinhos e muito obrigada pelas tuas lindas palavras! :-)

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  3. De acordo completamente. Estas perguntas que acompanham o post, digamos que a maioria das pessoas à minha volta, responde afirmativamente :(, e acho mesmo, que é porque dá jeito.

    Portanto, sou uma das poucas "ovelha negras" que respondem o contrário. Tb encontro pessoas que já andam a mudar as suas acções, mas mesmo essas, acham que falar de realidades e dar informação ou ser um pouco mais activista, não vale a pena.

    Tal como o teu professor, existem tantas outras pessoas desconhecidas a viver e a agir para um melhor rumo e essas sempre vão contaminando outras. Lentamente, mas vão e sabendo isso fico mais feliz.

    Grata Manuela e Sónia e tantos outros desconhecidos que fazem deste mundo um melhor mundo, só por existirem, pois são muito boas as vibrações.

    beijinhos ás duas

    Sónia, esse teu grupo é uma genial idéia que pode ser aplicada a muitas áreas.

    Viva a Vidaaaaaa!

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    1. Olá aNaTureza

      Infelizmente, é verdade, a maioria responde sim à maioria das perguntas. Por isso este mundo está como está. Somos poucos, mas, aos poucos, cada vez mais "ovelhas negras" :)

      Obrigada também pela tua ação e informação, sobretudo aí nos Açores, para ajudar na mudança. Tal como a Sónia, és uma fonte de inspiração para mim

      Beijinhos, obrigada, e VIVA a VIDA :)

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    2. aNaTureza, estou com a Manuela: o trabalho que fazes também é inspirador! :-)

      É tão fixe ver esta troca de galhardetes!!! Só mostra que, como diz o Armandinho, nos estamos a começar a reunir mesmo!!! :-)

      As Mães de Transição são um porjecto altamente, idealizado pela Sofia Passos, uma visionária com os pés na Terra e o Coração Grande no sítio certo! :-)
      Junta-te a nós! ;-)

      Beijinhos às 2,
      Sónia

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